Obviamente, o paciente depressivo não é um ser isolado. Tal como qualquer outro indivíduo, é um ser dinâmico em contínua interacção com o seu ambiente. Devido à sua racionalidade e ao tempo que passa no meio familiar, este é talvez o mais relevante para ele.
A forma como a família vive a doença do paciente, as atitudes que adopta e as medidas que toma são muito importantes, pois contribuem para aliviar o distúrbio e em certas ocasiões para evitar acidentes que podem ser fatais. A família no seu conjunto e, a título individual, cada uma das pessoas que a formam, quase sempre trata de dar ao paciente e de proporcionar a si própria uma explicação lógica do que acontece. Isto é normal, mas a família deve pensar que os seus argumentos ou sugestões podem, eventualmente, angustiar o doente.
De forma breve enunciam-se seguidamente as oito expressões mais comuns nestes casos, que os familiares não devem dirigir à pessoa sofrendo a depressão.
1. A culpa é minha. Esta expressão é frequente sobretudo quando o paciente é uma criança ou um adolescente, pois amiúde os familiares atribuem-se a culpa do mal-estar. Seja ou não verdade, jamais se deve dizer ao paciente: «se eu não tivesse dito ou feito aquilo», «se no momento indicado eu interviesse», «é evidente que tens a mesma doença que eu, ou que o meu pai», etc. Nada disto o ajuda e, pelo contrário, pode chegar a sentir-se culpado da culpa que se atribuem os familiares.
2. Deves esforçar-te e fazer alguma coisa por ti. Esta é talvez uma das censuras mais frequentes e mais injustas, pois, quando o paciente está em plena depressão, não pode esforçar-se nem fazer alguma coisa. É diferente, no entanto, quando o paciente já melhorou e conta com mais recursos para resistir ao medo que persiste e enfrentar uma vida activa. Nestes casos, as terapias dirigidas por um especialista e orientadas ao conhecimento e ao comportamento contribuirão para a melhoria do paciente.
3. Sai e distrai-te. Toda a gente pode pensar que sair, ver amigos, conversar, etc., pode ser uma boa terapia. Contudo, o indivíduo depressivo não tem vontade de sair nem pode distrair-se. E em muitas ocasiões seguir estes conselhos é pior para ele, pois nas suas relações com os outros efectua esforços desmedidos para «aparentar que está bem». Além disso, não pode distrair-se porque a sua atenção está centrada no seu mal-estar.
4. Não penses tanto. Nãó é verdade que o indivíduo depressivo pense mais. Pelo contrário: pensa menos e fá-lo sempre em torno das mesmas ideias depressivas que o obsessionam. O que acontece é que a sua falta de comunicação com os outros e a atitude reconcentrada que adopta podem induzir-nos a julgar que pensa continuamente e que o faz, talvez, com o fim de encontrar a solução dos seus problemas.
5. Mas se tens tudo, que é que te falta? É muito fácil para alguém que nunca sofreu uma depressão pensar que esta só se explica como consequência de problemas familiares, económicos ou profissionais. Não é necessariamente assim. Há casos em que os pacientes não têm este tipo de problemas e, no entanto, não podem deixar de pensar que ocorrerão grandes desgraças familiares, que perderão o trabalho ou que se encontram na mais absoluta ruína, se bem que tudo isso seja falso.
6. Deves esquecer o que te atormenta. Por um estranho raciocínio há pessoas julgando que há sempre qualquer coisa oculta e que é, sem lugar a dúvidas, a causa evidente e definitiva da depressão. Consequentemente, supõem bastar um esforço do paciente para descobrir essa causa e libertar-se do mal-estar. Pois bem, nunca é assim e com este tipo de expressões podemos levar o paciente a sentir culpabilidades falsas, ou reais, mas pouco relevantes.
7. Há outros em piores circunstâncias que não se queixam tanto. Se há alguma coisa uniformizando a maioria dos indivíduos depressivos é o facto de preferirem uma doença «orgânica» a uma depressão. Em geral, estão dispostos a trocar este sofrimento interior por uma dor física, pois consideram que os mal-estares físicos têm sempre uma solução médica ou cirúrgica, enquanto que a solução psiquiátrica ou psicológica que lhes é oferecida não lhes merece crédito ou lhes parece impossível.
8. Deixa tudo e verás como te curas. Sem dúvida há pessoas com grandes problemas. Têm enormes e complexas responsabilidades e o trabalho absorve-as demasiadamente. Por isto mesmo, aconselha-se-Ihes abandonarem responsabilidades e trabalho. No entanto, pode-se comprovar que:
• Nas depressões não contam só os grandes problemas, pois qualquer pequeno problema se toma maior. Assim, acontece por vezes que pessoas acostumadas a tomar grandes decisões são incapazes de tomar qualquer pequena decisão quando sofrem uma depressão.
• Quase sempre a depressão é uma doença transitória e não é adequado tomar decisões quando se vive. uma depressão. Acertado seria dizer: «Quando voltares a ser o mesmo de sempre, tu próprio decidirás o que pretendes fazer com a tua vida. Por agora, o que importa é curares-te.»
• Demonstrou-se que as pessoas se arrependem de tomar decisões em plena depressão. Há indivíduos que durante a depressão renunciaram ao seu trabalho ou venderam propriedades e quando recuperaram deram conta de que as suas decisões foram precipitadas e, portanto, erróneas.
Fonte: adepresssão.com